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... fraco somente será aquele que deixar de lutar. Aquele que hoje perdeu é considerado um batalhador que amanhã por persistência será vencedor.

sábado, 19 de junho de 2010

São coisas que não voltam mais.

Bangu Futebol Clube, time em que joguei durante muitos anos e é um clube que eu tenho muito carinho até hoje, fiz verdadeiros amigos lá e mais, ganhei um paizão de presente, meu treinador que era quem mais me apoiava e me ensinava a cada dia e mais, sempre dizia que eu tinha tudo pra ser um grande jogador e em um certo ano eu provei tudo isso. Teríamos o campeonato juvenil de Contagem, clubes tradicionais estavam se preparando montando grandes elencos o que seria sensacional para a cidade. Eu ainda era infanto-juvenil, tinha ficado em 3º lugar na minha categoria e tinha sido destaque já que eu treinava e jogava amistosos com o time juvenil, já era mais rodado que os meus companheiros, foi então quando o meu professor, Nilo Ângelo, me perguntou se eu aguentava o "tranco" no juvenil e eu já sábia que na minha posição eu praticamente não jogaria devido a qualidade do time juvenil, mas mesmo assim aceitei e disse que iria com eles no juvenil.
Caímos na chave "B", considerada a mais forte, continha os times Recanto Azul, Farropilha, Nova Contagem e Bangu (nós). Começamos a nos preparar um mês antes. Nosso time juvenil tinha como base o seguinte: Juninho, Fellipe, Boca, Felipe e Robson. Davidson, Doca, e Robert. Weverton, Elias e Alan. Ainda tinhamos grandes reservas como Jhonatan, Dhiojenes, Ronald, Fábio, Dudu, Coxinha. Contudo, eu sábia que seria o 2º reserva do Robert, que era quem atuava na minha posição, mas fui treiando cada dia mais forte e me destacando sempre, tinha uma preparo físico bom para a minha idade, e tinha uma carateristica interessante para o esquema do time, eu podia atuar com 3º homem do meio de campo, revesando com o Doca, podendo assim, liberar o Robert ao ataque, que era o homem de criação do nosso time, mas eu sábia que dificilmente seria titular. Chegado o dia da nossa estreia, clássico contra o Recanto na pedreira e pra minha surpresa ganhei a camisa 8, e o Elias foi sacado, atuamos com dois atacantes apenas. Duí, nosso auxiliar me chamou para conversar em particular e disse que confiava demais em mim e que sábia que se eu chamasse sempre o jogo pra mim ia me destacar e pra supresa de muitos, vencemos o Recanto por 3a1, com dois gols meu e a certeza de que a escolha do professor foi correta. Passamos a primeira fase invictos e eu incrivelmente era destaque do time e até então artilheiro da competição com 6 gols. Nas quartas de final pegamos o Santa Helena (atual campeão), perdemos o primeiro jogo por 3a2, onde fiz um gol de falta e íamos decidir em casa. Não teve muita supresa, vencemos por 4a1 com 3 gols do Alan e um golaço do Robert, mas mesmo assim fui o melhor em campo. Na semi final tínhamos o clássico contra o M. Castelo pela frente, o que era quase o fim do mundo quando as duas equipes se enfrentavam, éramos considerados as duas maiores forças de Contagem, na primeira partida fora de casa um amargo 0a0, jogo feio, muito marcado e com muitas faltas. Novamente íamos decidir em casa e o campo estava lotado. O primeiro tempo foi mais de estudo do que de futebol, mas aos 40 do primeiro tempo, tomamos um gol de falta. Voltamos para a segunda etapa com um estilo de jogo diferente, continuaríamos a esperar o Monte no nosso campo, mesmo perdendo, e foi o jogo certo, o Monte não se contentava em tocar a bola para gastar o tempo e ainda jogava pelo empate e resolveu ir pra cima, mas em um vacilo deles, Robert roubou a bola e saiu em velocidade, Alan passou puxando a marcação para o fundo e Robert acabou na velocidade passando por 3 marcadores e fazendo um golaço. A partir daí nosos time cresceu em campo e começamos a dominar o jogo, eu de forma rápida virava todas as bolas para confundir a marcação e revesava com Robert na direita, saindo da forte marcação do Monte. Mas eu ainda não estava jogando como antes, estava muito preso na marcação, mas dizem que grandes jogadores precisam de um único lance para decidir o jogo, e assim foi feito, escanteio cobrado, a zaga cortou e eu vim de trás, quando todos acharam que viria uma bomba, simplesmente ajeitei a bola, deixando muita gente no chão devido ao fato de se atirarem na frente de um possível chute e com um toque espetacular acertei a gaveta, virando o jogo e saindo para comemorar com o meu técnico. O Monte tinha 10 minutos para empatar a partida e ir a final e nós tínhamos os mesmos 10 minutos para segurarmos o placar e ir a final, foi um sufoco danado, mas eu e Robert cadenciavamos a partida, com toques de primeira sempre virando o lance e até quando faltavam uns 2 minutos para o fim, nossa zaga cortou um cruzamento e a bola caiu nos meus pés, eu quase errei o dominio, mas o dia era meu, sai em velocidade passei por dois e toquei para o Alan que de primeira devolveu na cara do gol era so fazer e sair pra galera, mas eu acabei correndo mais do que a bola e perdi a passada e a chance da fazer o gol, mas de forma inteligente e de pé direito joguei a bola na cabeça do Robert que deslocou o goleiro e garantindo a nossa vaga para a final, Bangu 3a1 Monte Castelo. Para a minha surpresa o juizão filho da puta marcou um cartão do Robert para mim e eu acabaria ficando fora da primeira partida da final. Chegado o dia da final contra o Recanto no Frigoarnaldo eu acompanhei o time no vestiário, na oração, ajudei na distribuição do uniforme até carreguei a chuteira do Robert, que mala a dele, mas eu queria ajudar de qualquer forma, nosso grupo era muito unido e o Recanto agradecia a minha ausência empatamos por 2a2 com dois gols do Alan e iamos decidir tudo no último jogo também no Frigoarnaldo. Porém, na final tinhamos 3 desfalques importantes, sendo eles o Felipe, Robert e Alan, isso evidenciou-se dentro de campo, com o Recanto dando um baile no nosso time, nos colocando na roda e abrindo 2a0 com 20 minutos de jogo já que tinham dois jogadores a mais e mantendo até o intervalo. No vestiário nosso time discutia muito, estávamos muito nervosos e com o título praticamente impossível, foi quando Robert me chamou pra conversar e me perguntou porquê eu não tava jogando bem, se eu estava com medo. Eu realmente estava assustado, o campo tava cheio e eu ainda era moleque, estava sim sentindo o peso da 10 que era do Robert, mas ele me passou toda força e disse que eu ia virar aquela partida. Voltamos com o mesmo time, o Recanto tinha tudo pra sacolar e ser campeão de forma indiscutível, mas ao invés de matarem o jogo, resolveram abusar da vantagem, querendo humilhar nosso time. Com 15 minutos do segundo tempo e perdendo por 2a0 eu já estava com as lágrimas escorrendo diante daquela humilhação, foi quando meu pai me chamou na beira do campo e me disse: - Seja homem, chame pra você a responsabilidade e jogue, apenas jogue". E quando eu ia voltando a campo, meu professor que era meu maior ídolo me disse a seguinte frase: " - Eu confio em você, eu sou mais você, todos nós somos mais você." Aquilo me fez chorar ainda mais, mas me revigorou e logo em seguida roubei um bola no meio e lancei Fábio de forma brilhante, ele invadiu a área e bateu cruzado, diminuindo o placar. Tinhamos 25 minutos para buscarmos ao menos o empate. Fomos com tudo para o ataque, mas a bola não entrava, eu já tinha acertado a trave duas vezes, mas ela não entrava, comecei a virar mais o jogo, a jogar pelas laterais e assim saiu o gol de empate, uma bola na direita o Davidson passou feito um raío, mas eu não dei a bola, quis ir sozinho, puxei pra conhota e cruzei na cabeça do Weverton, era o gol de empate e um alivio maior. O Recanto resolveu ir para cima com a vatagem númerica, mas corria o risco do contra ataque rápido do Fábio e Weverton, mas nenhuma das duas equipes conseguia sair bem e tudo caminhava para os penaltis, mas aos 49 minutos em lance individual, contra dois marcadores no bico da área, eu com um leve toque de pé esquerdo achei Davidson no meio de dois marcadores e quando ele dominou, foi puxado e o árbitro deu penalti e expulsou o zagueiro do Recanto. Eu já sábia que cobraria e busquei a bola, mas sai do tumulto criado dentro da área e fui caminhando pra longe com a bola nas mãos e me agachei no meio de campo olhava para a bola com o coração pulsando forte e pensava como iria bater aquele penalti, depois de quase 3 minutos de reclamação do Recanto o árbitro procurou a bola e eu fui caminhando passo a passo até a marca, foi o caminho mais longo da minha vida, eu tinha o título em mãos, mas ao mesmo tempo eu tinha a bola que poderia ser a maior vergonha da minha vida. Quando o árbitro me mandou ajeitar a bola eu já estava com os olhos cheios de lágrimas, todas as atenções voltadas a mim e eu já estava decidido a bater no ângulo, mas corria o risco da bola subir demais, mas mesmo assim não tinha medo, o árbitro autorizou eu demorei usn 10 segundos para correr em direção da bola. Naquela hora acho que o mundo todo estava nas minhas costas, era um peso muito grande eu lembrei de toda a competição, do nosso sofrimento para chegar até a final, não tinhamos patrocinio, as vezes nós não tinhamos como ir a campo, eram nossos pais que nos levavam de carro, de ônibus, de várias formas e eu tinha uma bola que poderia pagar tudo isso, foi então que de pé esquerdo eu bati forte no ângulo e pra me matar do coração a bola pegou no travessão e caiu nas redes, era o título do Bangu, era a certeza de que tudo que passamos foi muito bem pago com esse título. Fim de jogo, Bangu 3a2 Recanto, festa nas arquibancadas, lágrimas nos jogadores e um título merecido, com todos os jogadores se doando ao máximo, se comprometendo. São coisas que não voltam mais, mas são momentos que ficam para sempre. Bangu Futebol Clube, mais que um time, tinhamos um familia.

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