Quem sou eu

Minha foto
... fraco somente será aquele que deixar de lutar. Aquele que hoje perdeu é considerado um batalhador que amanhã por persistência será vencedor.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Quase o último suspiro.

Dia 23 de Abril de 2002 (Terça-feira), sala de Artes, por volta das 15:52. Começava ali uma brincadeira que colocaria a vida de uma criança de apenas 11 anos em risco. Brincadeira essa que durou cerca de 15 segundos, dois coleguinhas de turma brincavam, e num simples gesto de maior força de um, acabou derrubando o outro, seria um simples tombo. Seria ... se o meu baso ( órgão imunizador de doenças ) naquele momento não estivesse estourado. Começava ali o maior drama da minha vida. Um desmaio, desespero da turma ao ver o coleguinha caído, mas foi um rápido desmaio, um colapso. Parecia tudo bem, mas a diretora já aguardava, lá vinha sermão daqueles. Lembro como fosse hoje, eu adentrava a sala da fera, e logo disse: - Carmem, tô sentindo muita dor, ela logo em seguida disse: - Ligarei para os seus pais. Ok. Uma ligação comum: Senhor Jairo, seu filho está se sentindo mal na escola, porém já percebi que é puro drama, deve ser o medo da ocorrência, gostaria da sua presença na escola urgente. Questão de 10 minutos e minha mãe supreendentemente apareceu. Foi explicado a ela o ocorrido, e enquanto isso eu me contorcia em dores, minha mãe logo percebeu que minha fisionomia não era de medo e sim de dor. Naquele exato momento a diretora se recusou a pedir uma ambulância a um garoto de apenas 11 anos, absurdo. Foi aí que surgiu minha professora e se propôs a me levar a Unidade XV. A minha vida já estava em jogo e ninguém imaginava. Chegado a Unidade XV um garoto que chorava de dor fez um simples exame e a conclusão do médico: - Mãe, seu filho não tem nada, a senhora pode voltar com ele para casa, que chegando lá ele já estará melhor. Minha mãe no ato respondeu: - Conheço meu filho doutor, seus lábios mudaram de cor, ele não está bem. Médico filho da puta se negava a me atender, e por pirraça disse: - Podemos mandar seu filho para o Hospital João XXIII (na época conhecido como açougue), minha mãe de imediato aceitou, seu coração de mãe sabia que algo estava acontecendo. Uma ambulância apareceu, coisa que a diretora negou-se a chamar. Foi a conta de deitar na maca e desmaiar novamente, só ai todos perceberam que realmente eu tinha algo, foi longo o caminho até o hospital, depois de desmaiar e acordar diversas vezes na ambulância, chegamos ao local. De imediato diversos enfermeiros ao meu redor, eis que surge um anjo chamado Gláucio, ou melhor, o Drº Gláucio. Num simples olhar, é isso mesmo, um simples olhar ele disse: - Precisamos leva-lo ao bloco cirúrgico, isso sem nem ter me tocado. Ao mesmo tempo o médico disse a minha mãe: - Levaremos seu filho ao bloco cirúrgico, faremos ultrassom para sabermos se é fígado ou baso, reze por ele. Naquele momento achei que com aquela noticia minha mãe que precisaria operar, mas do coração, era demais para uma mãe. Direto para a ultrassom, baso ou fígado? pra mim pouco importava, não entendia nada mesmo, só queria parar de sentir dor, mas de repente pararam o exame, pois a hemorragia interna já tinha tomado conta de mim, eu não podia esperar mais do que 12 minutos, ou seria tarde demais. A minha maca corria mais que carro de formula 1, eu já não sabia se chorava pela dor, ou pelo medo de cair da maca, foi quando vi ao longe uma porta grande, e quando eu li em cima da porta "Bloco Cirúrgico", apaguei, simplesmente dormi. Ai começou a luta pela minha vida, e eu dormia sem nem imaginar o que poderia acontecer, meus familiares reunidos lá fora, rezando por mim. Meu pai na porta do bloco cirúrgico, longas horas de espera, e o pobre coitado assistia algumas macas cobertas com lençóis brancos de pessoas que não resistiram no bloco cirúrgico passando por ele, sendo que eu filho estava lá dentro, e poderia ser eu que estava em alguma daquelas macas, cruel! Depois de 3 horas de cirurgia, doutor Gláucio apareceu, minha mãe em desespero perguntou: - Meu filho doutor? Ele respondeu: - Guerreiro, resistiu bravamente e está na UTI, retiramos seu baso que tinha estourado. Acho que minha mãe nunca desejou tanto me ver, mas não tinha condições. Depois de longas horas em sono profundo, eu dei o ar da graça, meio lerdo ainda, já é normal, mas naquela hora era contagiante. A primeira palavra: - Mãe. Daí surge meu pai feliz da vida, eu impiedosamente disse: - Sai, eu quero a minha mãe, aquilo foi quase uma água fria nele, depois de tanto desespero na porta do Bloco. Começa ali uma briga particular minha e do meu pai. Eu sem entender muito por que estava ali todo amarrado, cheio de aparelhos e com um bendito de um aparelho que parecia mais um pregador, que ficava no meu dedo. Porém se eu tirasse ele, parecia que algo apitava, desenhava, sei lá que diabo fazia, por que mesmo por baixo do lençol meu pai percebia que eu tirava e tornava coloca-lo. Acho que eu tirei isso umas 240 vezes, e ele cruelmente colocou 241, por fim desistir de brigar com ele, velho teimoso da porra. Depois de passar o dia inteiro na UTI, pude subir para o quarto, começava ali uma nova vida. Ah, já ia me esquecendo, antes de subir pro quarto, uma enfermeira me deu um banho, eu na cadeira de rodas com um curativo na barriga, ela carinhosamente disse: - Juan, olha sua mãe ali, eu bobo olhei para o outro lado, ela de imediato puxou o curativo. Cara, aquilo doeu uma barbaridade, eu sentia tanta dor e gritei tanto, que não deu tempo de chorar. Você me paga enfermeira. Chegado ao quarto, minha vida era dormir o dia todo, não conseguia me mover, e ainda andava muito corcunda, pois tinha medo de esticar o corpo e a cicatriz abrir, coisa de criança. Passei 9 dias internado, sendo que 6 impiedosos dias, passei apenas de soro, não podia comer, não podia tomar água, o máximo que podia ser feito era minha mãe molhar a gasinha e passar nos meus lábios, aquilo eu quase engolia a gasinha de tanta sede, e minha mãe assistia tudo aquilo e nada podia fazer. Porém, no meu segundo dia no quarto recebi a noticia de que o Galo tinha sido derrotado pelo Brasiliense por 3a0 em casa, pelo primeiro jogo da semi finais da Copa do Brasil. ( Voltei para a UTI ). Conudo, consegui levar esses 6 dias de apenas soro, fortemente. Mas era terrível ver os outros comendo, bebendo água, e eu ali, só desejando. No meu 6º dia internado, dourtor Gláucio finalmente me liberou para poder comer e beber. Tinha um bebedouro no corredor em frente ao meu quarto e eu quase engatinhando me arrastei até lá, nem esperei minha mãe buscar a água. Era á agua mais linda da minha vida. Além de todo o sofrimento que eu passava do qual não conseguirei descrever aqui, devido a falta de memória que me afetou (existem coisas que eu não lembro), no mesmo dia que eu fui liberado para comer e beber, o médico diagnósticou que meu intestino poderia não responder mais, e contar isso a minha mãe foi dureza. Vida de médico não é fácil, mas doutor Gláucio agarrou minha causa com unhas e dentes, pois ele mesmo disse que nunca tinha visto um baso estourar antes, e bravamente foi falar com a minha mãe: - Vânia, precisaremos que seu filho faça uma ressonância Magnética, pois parece que seu intestino não responde mais, e se isso for confirmado infelizmente ele usara uma bolsa para o resto da vida. Puta que paril, era sofrimento demais para minha mãe, aquilo fez ela desfalecer, o mundo parecia ter acabado ali, naquele momento. No fim da tarde buscaremos seu filho. Apesar de tudo eu sorria facilmente, não sabia o que se passava. Porém aquele dia não foi só de risos, pois eu fánatico pelo Atlético, sabia que ás 16 horas tinha clássico contra o Cruzeiro válido pela copa Sulminas. Aquilo foi deprimente, me deixaram assistir o jogo, e um empate em 2x2, que levava a decisão da vaga para os penaltis. Mas eu tinha que descer para fazer o exame, nada que um rádio não resolvesse. Desci grudado no rádio, e meu estado ainda não era dos melhores, não podia ter fortes emoções, mas ninguém me tomava o rádio, foi quando Baiano desperdiçou a cobrança e o Galo foi eliminado pelo Cruzeiro. Pobre rádio, nunca mais existiu. Além de todo o sofrimento por estar internado e o Galo ter sido eliminado, eu ainda tinha que tomar um copasso de soro fisiológico para poder fazer o exame, misericórdia, aquilo era horrível. Fiz o exame e subi pro quarto novamente. Questão de 20 minutos, doutor Gláucio apareceu no quarto, minha mãe em pânico querendo saber o resultado, mas ao mesmo tempo não queria ouvir, pois seria o fim ouvir que seu filho passaria o resto da vida usando uma bolsa. Mas tudo correu bem. Chegado o 10º dia, fui liberado para voltar a minha residência, era a despedida de um local do qual havia salvado a minha vida. Doutor Gláucio que havia me salvado apenas disse: - Se cuida garoto, você é guerreiro. Pensei que estivesse acabado o sofrimento todo, pensamento errado. Eu precisava tomar todas as vacinas novamente, pois não tinha mais meu baso, e ainda precisei tomar um antibiótico até os 18 anos, mas meu organismo não aceitou, tive que tomar Bezetacil de 21 em 21 dias, até os 18 anos, nunca tomei uma vacina tão dolorosa. Enfim, depois de tanto sofrimento, hoje sou um garoto normal e agradeço a Deus por tudo e por ter colocado o doutor Gláucio no lugar certo e na hora certa. Aqueles que me negaram socorro, a justiça de Deus não falha !

Nenhum comentário:

Postar um comentário